sexta-feira, 4 de março de 2011

MEL




Particularmente sempre achei exagerada a relação de algumas pessoas com os animais. Quando o assunto era animal de estimação, aquilo me intrigava ainda mais. Nunca fui de ter qualquer atitude que fosse prejudicar um animal, mas, sinceramente, nunca quis ter um animal de estimação.
Meados de agosto, noite fria, dia do aniversário do meu filho. Batem à porta. Ao abri-la, estava, a sorrir e com uma cachorrinha bebê meio vira-lata nos braços, uma grande amiga minha. Lembrou-se do aniversário do meu filho e quis presenteá-lo de uma forma diferente.

O que fazer, meu Deus!

Meu filho e minha filha viram a cachorrinha nos braços de Vitória e foi amor à primeira vista.

-Meninos, não podemos. Vejam bem, eu não tenho tempo para cuidar. E vocês nunca cuidaram de um animal de estimação.

- Ah, mãe, porque você nunca deixou que a gente tivesse um...

Risadas e, para mim, momento desconcertante, contribuíram para a permanência daquele bichinho tão pequenino.

Deram-lhe o nome de Mel, porque tinha um olhar que nos lambuzava. Marrom, de olhos azuis. Hoje, por ironia do destino, cor de mel.

Tudo foi improvisado para aquele momento. Eu tinha um balde grande. Coloquei-a nele, peguei cobertas velhas e a cobri, embrulhadinha. Dormiu no meu quarto. Não foi apenas uma noite não. Foram muitas.

Rapidinho se habituou a fazer as necessidades no gramado do jardim. Porém, isso acontecia também nas noites muito frias e chuvosas.E para limpar o jardim não era muito fácil. Notei que as roseiras ficaram mais viçosas... Uma gripe forte pegou-me ao longo desses cuidados.

Afinal, o que estava havendo comigo? Não sabia explicar.

Mel foi crescendo amada e muito saudável. As peraltices cresciam junto. Estragou mais de um par de chinelos, alguns tapetes, até a churrasqueira, cavando em alguns tijolos quebrados, comendo tudo o que visse pela frente.

Certo dia, ao chegar em casa, após o trabalho, notei que a Mel não estava nada bem. Quando meus filhos chegaram do colégio, ficaram desesperados, porque me viram angustiada. Aproximei-me da Mel, passei a mão sobre a cabeça dela e senti que ela estava com febre. Seus olhos, tão cativantes, estavam muito tristes. Tão tristes que me fizeram chorar. Foi o bastante para as crianças desabarem em lágrimas.

Chamei o veterinário:

- Infecção intestinal. Ela vai ficar boa, após aplicação desse antibiótico. Esse tipo de cachorro come tudo o que vê pela frente. Com certeza, vocês terão mais sustos com ela. Guardem o nome do remédio. Irão precisar.

O susto passou e, por enquanto, não precisamos mais do remédio, cuja embalagem continua guardada.

Hoje penso na ternura, no amor incondicional, na pureza desses animais. Coisa que nunca tinha percebido. Vejo que não dá para ser feliz completamente, sem a presença dela.

Mel continua muito arteira e me encanta a cada sapato que pega e sai, em disparada, com ele na boca. A cada vez que corre para um colchão-reserva, que tenho debaixo da cama e no qual ela adora se deitar. A cada vez que vem me receber, toda feliz, quando chego do trabalho, deitando para que eu lhe faça carinho.

Definitivamente Mel influenciou uma mudança em mim. E para melhor.

Luas de Galileu

MULHER




MULHER



Metamorfoseias em crisálidas


tuas formas e cores.


Dobra-te sobre tuas asas,


no descanso ou na reflexão


do teu dia.


Alimenta-te vorazmente


dos teus anseios, desejos,


Vales escondidos...


Absorves o néctar das flores,


o suco das frutas,


o mel da tua própria essência.


Polinizas consciências, corações,


tantas almas.


De espírito imortal,


ressurges com toda a potencialidade


do Ser.

Anoiteceu no mar


Anoiteceu no mar.
Da triste e bela noite,
respingou-se saudade
doída e vívida.
As ondas,
crespas e voluptuosas,
trouxeram lembranças
em suas cristas.
A noite, então,
tornou-se plena
e ainda triste,
e ainda bela.
Por fim, cansada
de tamanho esforço,
debruçou-se
sobre si mesma,
para adormecer no mar.

Carnaval






Máscaras cobrem

esses dias de folia,

talvez

todos os nossos dias


Pierrô pinta

o rosto e a esperança,

Colombina

em seus braços de palhaço.


- Ai, Colombina, tua

dura indecisão

serpenteia entre

dois corações.


O triângulo se faz.


Arlequim mascarado,

em triângulo (amoroso),

saltita, espertalhão,

no coração da moça.

Ela roda e canta e dança,

pela madrugada.


Pierrô, de olhos triste

e boca escancarada,

divide o coração da

da foliona, entre

o palhaço e o canalha.


Essa história não tem fim.


É a história das nossas horas,

dos carnavais de outrora

e dos que ainda estão por vir.